quarta-feira, 27 de outubro de 2010

John Ruskin, em 1900, sobre a preparação de carruagens para viagens turísticas

  Os pobres escravos modernos e tolos que se deixam ser arrastados como gado, ou madeira caída, pelos países que imaginam estar visitando, não têm idéia das alegrias complexas, e das esperanças sinceras, relacionadas à escolha e à preparação das carruagens de viagem, nos velhos tempos. Em primeiro lugar, as questões mecânicas, da potência – da suavidade do movimento – do equilíbrio e da segurança de pessoas e bagagens; o efeito de pompa a ser obtido para embasbacar os observadores plebeus; a engenhosidade do desenho e da distribuição das despensas sob os assentos, gavetas secretas sob as janelas frontais, bolsos invisíveis sob o forro do estofamento, proteção contra a poeira, acesso através de insidiosas aberturas, ou dispositivos necromânticos como portas de Aladim; o encaixe dos coxins de modo que não deslizassem, o arredondamento das arestas para melhor descanso, a correta fixação e abertura das cortinas; o perfeito encaixe das janelas, do qual metade do conforto de uma viagem em carruagem realmente depende; e a adaptação de todos esses luxos às necessidades dos que ali iriam sentar, neste pequeno apartamento que seria, virtualmente, a casa dos passageiros por cinco ou seis meses; - tudo isso era uma viagem imaginária em si mesmo, com todos os prazeres, e nenhum dos desconfortos, de uma viagem verdadeira.       (Traduzido do inglês por Marcos Augusto Pessoa Ribeiro)

.       John Ruskin (Londres, 1819–1900) foi um escritor mais lembrado por seu trabalho como crítico de arte e crítico social británico. Foi também poeta e desenhista. Os ensaios de Ruskin sobre arte e arquitetura foram extremamente influentes na era Vitoriana, repercutindo até hoje. O pensamento de Ruskin vincula-se ao Romantismo, movimento literário e ideológico (final do século XVIII até meado do século XIX), e que dá ênfase a sensibilidade subjetiva e emotiva em contraponto com a razão. Esteticamente, Ruskin apresenta-se como reação ao Classicismo e com admiração ao medievalismo. Na sua definição de restauração dos patrimônios históricos, considerava a real destruição daquilo que não se pode salvar, nem a mínima parte, uma destruição acompanhada de uma falsa descrição. A partir de 1851, foi um defensor inicial e patrono da Irmandade Pré-Rafaelita, inspirando a criação do movimento Arts & Crafts.

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