sábado, 30 de outubro de 2010

Pelourinho, carrossel infernal.

Muito se projeta, se escreve, se publica e se fala sobre a  preservação e a reabilitação do centro histórico de Salvador. Muita mídia, muito discurso e muito dinheiro público. Resultados lamentavelmente pífios.


Sejamos objetivos: não existe competência para mudar o avançado processo de decadência. O negócio é empurrar com a barriga. O C.H. não passa de biombo, de cabide de empregos. Na década passada, a prefeitura teve a sagaz iniciativa de proibir uma área do Pelourinho ao trânsito automóvel. Durante alguns anos tal decisão foi respeitada. Mas novamente “a lei não pegou”. Desde 2008, o bairro virou carrossel infernal com a bênção do Iphan, Ipac e prefeitura competindo em leviandade. Tenho cem fotos provando esta omissão. As madames do Pelourinho Cultural e amigas costumam estacionar seus carros na porta do número 12. Tem evento oficial no Senac? Senhores engravatados e senhoras de bico fino só conseguem andar os dois metros que separam o carro da porta do nobre edifício. Andar desde o estacionamento é para o povão. Afinal, privilégio é para os privilegiados. Ou não é? Durante o dia, é só empurrar os inúteis cones de plástico para passar sob o olhar complacente dos policiais.
Em 17 de junho passado, acionei o Ministério Público que, em mais de quatro meses, não teve tempo de resolver tão complexo problema. Será que até este respeitável departamento da Justiça, agora deslocado para a rua das Laranjeiras, está sofrendo com o  Pelô´s virus? Assim vai nossa triste Bahia, a mercê de autoridades sempre ocupadas com problemas tão graves quanto misteriosos, não sobrando uma hora para debruçar-se sobre a agonia de um conjunto arquitetônico que só serve para cartazes de propaganda turística. Terá o novo secretário estadual de Cultura a sensibilidade e a competência, finalmente, de levar a sério o estatuto da Unesco que, a pedido de nossos governantes, outorgou-nos tão significativa distinção? Ou teremos que aguardar a vergonhosa decisão desse órgão internacional de retirar o selo de Patrimônio da Humanidade?
Salvador, 30 de outubro de 2010

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