terça-feira, 9 de novembro de 2010

RETALHOS 26

Você pode se achar calejado em termos de amoralidade política, mas quando lê que, apesar das graves denúncias na imprensa contra o minerador bilionário João Carlos Cavalcanti, nosso governador Jaques Wagner ainda aceitou usar o jatinho durante sua campanha, isto não lhe deixa como um gostinho amargo na boca? Qual será a contrapartida?

Quem deve estar aliviado com a saída do imperial Secretário Estadual de Cultura é o atual diretor do Palacete das Artes, Murilo Ribeiro. O relato do sonoro bate-boca entre ambos correu solto nos comentários baianos, a esmagadora maioria a favor do responsável pelo polêmico Museu Rodin.

Resta agora esclarecer a articulação das exposições de artistas de peso (Tunga, Cildo Meireles etc.) que ocuparam a área contemporânea nos últimos tempos. Começando pelo ambíguo envolvimento de certa galeria soteropolitana. E já que estamos nas cobranças, por que não verificar os custos e lucros todinhos destas exposições...

                                                 
Voltando ao surreal programa da Band sobre Luxo, a tal “professora de boas maneiras” ainda proporcionou outro momento gostoso ao falar de uma manicure, coitadinha, que tinha começado por uma lojinha e agora era dona de uma rede de mais de 30 lojas pelo Brasil afora. E olhe que ela era “de cor” mostrando o antebraço com o costumeiro sinal com a outra mão. O entrevistador, malicioso, pergunta
 “Mas como assim, de cor, ela é verde, azul, laranja?”
- Não... quero dizer, morena, escurinha...
- Preta?
- Bem sim... Mas não se pode falar desta forma, é deselegante...
- Negra?
A perua toda sem jeito, se retorcendo na cadeira símile Luis XV.
Isto me lembrou outra perua, Marta Suplicy, falando a uma senhora de sua “morenice” a quem a tal respondeu “Não senhora, não sou morena, sou negra mesmo e com muito orgulho!” Que bela bofetada...
                         
             
Certas coisas em Salvador são para você duvidar. Então, consegue-se um Mahamat-Salen Haroun, diretor de cinema africano que acaba de ganhar o Prêmio do Júri no recém Festival de Cannes e outro, de Humanidades na última Mostra de São Paulo, divulgação farta, entrada grátis com direito a boa conversa com o homem na confortável Saladearte da Ufba... e não aparece quase ninguém! Dos profissionais de cinema três perdidos, dos movimentos negros, que tanto reclamam, nenhum e da secretaria de cultura, nem sombra! Ganhou, e muito, quem assistiu a “Um homem que grita” e conheceu o talentoso cineasta. Do Chade, um dos paises mais pobres da África, ele nos apresentou um filme despojado, tenso e belo, banhado de sensibilidade e dignidade.                                               



A conhecida estilista Goya Lopes conseguiu manter sua loja aberta no Pelourinho durante vinte anos. Acaba de fechar a Didara “durante certo tempo” por falta absoluta de freguesia. Mais uma vencida pela incompetência dos responsáveis do misterioso “Centro Antigo de Salvador”. A Solange Carybé, da Oxum, está seguindo o mesmo caminho. Parabéns, governantes! Continuem elaborando projetos!

E a respeito da entrevista da Beatriz Lima. No domingo seguinte, a revista publicou parte de minha “Carta aberta...”, e mais nenhuma declaração a favor da diretora do Escritório de Referências. E não é que duas semanas depois choveram os apoios? Como que você falaria mesmo neste caso... “Missa encomendada”? É isso?

                   

                                                                     
Com elegância, Barak Obama respondeu à estranha política internacional do “The Guy” que, metendo os  pés  pelas mãos, paparicou Khadafi, hospedou aquele iraniano nazista, meteu a colher no saco de gatos Israel-Palestina – quando todos sabem que é caça reservada dos ianques – namorou o Hugo Chávez e desprezou os presos políticos cubanos, mesmo na hora da morte. Resultado? O presidente dos EUA convidou a Índia a sentar entre os poderosos do Conselho de Segurança da ONU. Sonho louco de nove entre dez diplomatas brasileiros. Que bofetada, hein?! Como cheguei a escrever logo após a eleição do Obama, ele é americano antes de ser negro ou terceiro-mundista.



E o belíssimo convento de São Francisco em Cairu, baixo sul da Bahia? A empresa responsável pelo restauro se queixa de não conseguir fiscais do Iphan (ou do Ipac?), apesar de numerosos pedidos. Estes não aparecem alegando falta de verba para a viagem. Pode?!

Juízes na praia Uma reunião de juízes no Hotel Comandatuba, em Ilhéus, BA, paga majoritariamente por empresas que têm grande número de causas na Justiça, já é esquisita. Mais esquisito é achar, entre os patrocinadores, a fábrica de cigarros Souza Cruz, que responde a centenas de processos de famílias que perderam parentes por causa do fumo. Segundo o médico Dráuzio Varella, na Folha de S.Paulo, "os fabricantes de cigarros não têm o menor escrúpulo, são capazes de tudo. Usaram atores, compraram médicos, esconderam pesquisas, fizeram comerciais dirigidos aos adolescentes, corromperam políticos (...)". Este colunista é do tempo em que juiz não aceitava nem carona. Aceitar patrocínios (e desse tipo), nem pensar.
Coluna do Carlos Brickmann de 09/11/2010

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