quinta-feira, 15 de março de 2012

Uma mulher entre homens


Por Marcos Augusto Pessoa Ribeiro

No Shopping Center, numa mesa ao lado da minha, quatro rapazes e uma garota bebiam café.
Todos com vinte e poucos anos, brancos, de classe média ou classe média alta. Sotaque sudestino; provavelmente paulista.
Discutiam, esportivamente, um problema técnico relacionado à perfuração de petróleo no mar. Entreouvi as palavras: maré, nível do mar, pressão, broca, condensador. Portavam crachás da Petrobrás; imaginei que fossem engenheiros ou geólogos, formandos ou recém-formados, que fizessem estágio ou curso preparatório na grande empresa.
Os rapazes, concentrados nos aspectos técnicos do problema, estavam sérios, embora o tom das vozes tivesse a leveza e a descontração de uma conversa de mesa de bar  
A garota, muito bonita, morena clara, cabelos negros longos, vestida “à européia” – calça jeans e camisa pólo -, sem babados e frufrus, participava marginalmente na conversa, esporadicamente fazendo perguntas, levando questões.
Entrementes, acariciava, nervosamente, uma mecha de cabelo que lhe chegava ao ombro. Seu rosto revelava leve desconforto, constrangimento. Os lábios permaneciam abertos de um modo tenso.
A seguir, passou a friccionar a unha do polegar contra a unha do dedo mínino. E a mordiscar o canto das unhas, a tentar arrancar, com os dentes, cutículas imaginárias.
   A conversa fluía entre os homens.
Observei o grupo durante 15 minutos.
Ocorreram-me duas hipóteses para o comportamento dela:
- Sendo mulher, da mesma idade e do mesmo grupo socioeconômico de seus colegas, ela talvez se sentisse contrafeita – talvez insegura, talvez inferiorizada – diante de uma situação na qual teria que discutir de igual para igual, “de homem para homem”, problemas técnicos de engenharia, área tradicionalmente de atuação masculina;

- Sendo jovem e atraente, ela talvez se sentisse ignorada como mulher; sua feminilidade teria “desaparecido” diante daquela conversa técnica e neutra, na qual existiam apenas profissionais e não gêneros sexuais. A este propósito, ocorreu-me a observação da executiva sueca que conheci no bar de um hotel em Hamburgo: “Depois que assumi um cargo de direção na empresa, os homens me respeitam, conversam comigo de igual para igual, mas, como mulher, desapareci.”

Ou, quiçá, seu embaraço, se devesse a uma combinação inextricável dos dois motivos.

 Marcos A. P. Ribeiro 

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