segunda-feira, 9 de abril de 2012

O GARFO

Já tem algum tempo que brinco com a idéia de escrever sobre os prazeres da mesa. Não que me considere um grande especialista, mas uma longa curiosidade sobre este  aspecto da cultura dos povos me encoraja a avançar nos meandros daquilo que é, ao mesmo tempo, necessidade e prazer. “Pecado capital!” fulmina a Igreja, cujas santidades nunca economizaram super salários a grandes cozinheiros e ingredientes raros.
Meu persistente ceticismo muito me tem ajudado a pular tabus e proibições.

File:Forks Susa Louvre MAO421-422-431.jpg
Por que o título “Garfo” desta nova coluna?
Esta pequena ferramenta apareceu nas mesas de Veneza, no princípio do século XI, trazido por Teodora Dukas, uma sofisticada princesa bizantina. Talvez fora trazida de Susa, no antigo e culto reinado de Elam, na garoupa de Assurbanipal. Apesar do arcebispo indignar-se com  “o símbolo do diabo”, a aristocracia se acostumaria sem demora a pegar as carnes com o garfo na travessa, para depois comê-las com os dedos no seu prato individual.

Um bom garfo é alguém com apetite. Meu caso. Comida rala artisticamente apresentada em prato amplo não faz minha cabeça e muito menos meu estômago. Mas não pensem que rejeito radicalmente a nouvelle cuisine Lembro de um menu-degustation no memorável Lucas-Carton em Paris – longa série de pequeníssimas e deliciosas porções – que quase obrigou meus anfitriões a me carregar nos braços até o carro.
O problema é a picaretagem que hoje acompanha os inúmeros copiadores desprovidos de talento.

Gosto de comer em mercados e feiras da mesma forma que mergulho - mais raramente! - no conforto de estabelecimentos 3 estrelas. Exijo somente honestidade. Comi muito mal em Cuzco até descobrir as mesas comuns do mercado local. Criança, assava gafanhotos com meus amiguinhos marroquinos, lá nos aforas de Tanger. Mas tarde, provei insetos nas ruas do México. Sou fanzeco do abará da Ladeira do Taboão, perto da Casa do Benin. Um bom sarapatel me faz levantar os olhos em direção às estrelas e um legítimo cassoulet me convence da existência das fadas.

Assim que, doravante, quem desejar ser meu convidado às  mesas da internet, só terá o trabalho de clicar, neste mesmo blog, no capítulo “GARFO”.


Um comentário:

  1. Dimitri. Com sua experiencia em viajens pelo mundo afora,não tenho duvida de que é uma grande idéia a exibição de sua carta interna-cional sobre comidas tipicas. Abração,
    CLIMERIO ANDRADE

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