sexta-feira, 23 de novembro de 2012

UMA FÁBULA ALCOÓLICA




por Célio Pezza
Era uma vez, um país que disse ter conquistado a independência energética com o uso do álcool feito a partir da cana de açúcar.

Seu presidente falou ao mundo todo sobre a sua conquista e foi muito aplaudido por todos. Na época, este país lendário começou a exportar álcool até para outros países mais desenvolvidos.

Alguns anos se passaram e este mesmo país assombrou novamente o  mundo quando anunciou que tinha tanto petróleo que seria um dos maiores produtores do mundo e seu futuro como exportador estava garantido.

A cada discurso de seu presidente, os aplausos eram tantos que confundiram a capacidade de pensar de seu povo. O tempo foi passando e o mundo colocou algumas barreiras para evitar que o grande produtor invadisse seu mercado. Ao mesmo tempo adotaram uma política de  comprar as usinas do lendário país, para serem os donos do negócio.

Em 2011, o fabuloso país grande produtor de combustíveis, apesar dos alardes publicitários e dos discursos inflamados de seus governantes, começou a importar álcool e gasolina.

Primeiro começou com o álcool, e já importou mais de 400 milhões de litros e deve trazer de fora neste ano 2012 um recorde de 1,5 bilhão de litros, segundo o presidente de sua maior empresa do setor, chamada Petrobras Bio-combustíveis.


Como o álcool do exterior é inferior, um órgão chamado ANP (Agência Nacional do Petróleo) mudou a especificação do álcool, aumentando de 0,4% para 1,0% a quantidade da água, para permitir a importação. Ao mesmo tempo, este país exporta o álcool de boa qualidade a um preço mais baixo, para honrar contratos firmados.

Como o álcool começou a ser matéria rara, foi mudada a quantidade de álcool adicionada à gasolina, de 25% para 20%, o que fez com que a grande empresa produtora de gasolina deste país precisasse importar gasolina, para não faltar no mercado interno. Da mesma forma, ela exporta gasolina mais barata e compra mais cara, por força de contratos.

A fábula conta ainda que grandes empresas estrangeiras, como a BP (British Petroleum), compraram no último ano várias grandes usinas produtoras de álcool neste país imaginário, como a Companhia Nacional de Álcool e Açúcar, e já são donas de 25% do setor. (SHELL-COSAN)

A verdade é que hoje este país exótico exporta o álcool e a gasolina a preços mais baixos um produto com 0,4% de água, importa a preços mais altos um produto inferior (1% de água), e seu povo paga por estes produtos um dos mais altos preços do mundo.

Infelizmente esta fábula é real e o país onde estas coisas irreais acontecem chama-se Brasil .

CÉLIO PEZZA é escritor 

  
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Acresça-se a essa "fabula":

- sua companhia petrolífera estatal dá prejuízo - talvez a única no mundo;
- o biodíesel de mamona não vingou; ´bilhões de estoque de mamona foram jogados fora;
- as usinas termelétricas destinadas a cobrir as necessidades durante a estiagem não entraram em operação por falta de   manutenção ou de combustível (O Globo 30/10/2012)



REAÇÃO E PROTESTO DE UM LEITOR A RESPEITO DE ARTIGO PUBLICADO PELA REVISTA VEJA SOBRE O MESMO TEMA:


Me surpreende que somente agora, depois do estrago feito, a Veja venha revelar aos incautos o engodo que foi o pré-sal, uma fantasia eleitoreira gestada na cabeça do Exu de Nove Dedos com o intuito de enganar trouxas e ganhar eleições, como de fato enganou e ganhou. Sua reeleição à presidência deve algo ao pré-sal, além da ignorância coletiva das massas estúpidas de eleitores brasileiros.

A única coisa que eu entendo de petróleo é que se trata da mais importante fonte de matérias primas, além de ser a principal fonte de energia do planeta.. Isto me bastou para nunca ter acreditado nas mentiras de Lula a respeito do pré-sal, que não é uma novidade brasileira, mas existe em várias partes do planeta. A diferença é que nas diversas partes do planeta onde o pré-sal também existe, inexistem governantes sem nenhum caráter dispostos a enganar empresários trouxas e eleitores idiotas com tal balela. Quem se der ao trabalho de correr os olhos pelas páginas do site da Statoil, empresa norueguesa que detém a melhor e mais avançada tecnologia de prospecção e extração de petróleo em águas profundas, vai verificar que extrair petróleo do pré-sal e como retirar diamantes de Marte, ou seja, é inviável por diversos motivos:

a) falta de tecnologia adequada;

b) falta de segurança numa operação de tal envergadura e,

c) falta de viabilidade econômica: “mesmo que fosse possível extrair petróleo do pré-sal atualmente, seu preço seria cinco vezes mais alto que o do petróleo extraído em águas profundas da Bacia de Campos.”

Agora a Veja, com esta reportagem, informa que os barões do petróleo estão em maus lençois por terem acreditado nas mentiras do Exu de Nove Dedos. Bem feito! Inteligência não é coisa para qualquer um.

Relata a reportagem:

“Desde a posse da nova presidente da Petrobrás, Maria das Graças Silva Foster, em fevereiro deste ano, o setor passa por um choque de realidade. As metas da empresa foram revistas e, com isso, os contratos com empresas fornecedoras de equipamentos e serviços (as companhias dos barões do petróleo) minguaram. Os sinais de que os ventos mudaram vêm de longe. Há quase uma década a Petrobrás não cumpre suas metas de produção. No segundo trimestre de 2012, contabilizou um prejuízo de 1,3 bilhão de reais. Foi o pior resultado desde 1999. No semestre, a queda foi de 64% em relação ao mesmo período do ano passado”.

Continua Veja:

“Na opinião dos especialistas, o pré-sal foi usado como bandeira política pelo ex-presidente Lula. O discurso era que a nova descoberta resolveria os problemas do Brasil, e a Petrobrás prometeu o que não podia”.

Ainda em seu primeiro mandato, o Exu de Nove Dedos anunciou a auto-suficiência do Brasil em Petróleo. Hoje, o Brasil importa gasolina, óleo diesel e até etanol de milho dos Estados Unidos. E ninguém cobra isto dele? O momento é oportuno, já que o ano é eleitoral.

Mas o dado que mais chama a atenção é a desvalorização das ações da Petrobrás desde àquela manobra de capitalizá-la sem na verdade injetar nenhum dinheiro em seus cofres. De lá para cá a Petrobrás perdeu 208 bilhões de dólares em suas ações, ou seja, hoje a empresa vale menos 208 bilhões de dólares! E ninguém cobra nada de ninguém?

Este é o resultado do estatismo. Entrega-se uma empresa que explora o melhor negócio do mundo a amadores apadrinhados por políticos, usa-se a empresa com fins eleitoreiros, atualmente está sendo usada como instrumento de política monetária, e o consumidor, que em última instância é quem paga a conta, fica a ver navios”.

A reportagem da Veja está primorosa. Pena que não sido publicada há uns quatro anos atrás.

Cordialmente,

Otacílio M. Guimarães

Nota: Os grifos são meus. Quem tiver interesse em se aprofundar na matéria, veja o site da Statoil:http://www.goodideas.statoil.com/deep-dive-pt#heavy-oil-container

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