quinta-feira, 20 de junho de 2013

O BRASIL ESTÁ DOENTE

Se “O Brasil acordou mais forte”, segundo a compreensão da presidente Dilma Rousseff, ela própria demorou em acordar porque declarara que “não entendia o que estava acontecendo” com parte do Brasil tomada por manifestações. Depois de reflexões, a moeda de R$0,20 caiu, ou a ficha, melhor assim, e então reconheceu que “Essa mensagem das ruas é de repúdio à corrupção.” Não é só isso. Não se trata tão somente do transporte público, mas sim do Brasil como um todo. Então, ela se apressou. Deixou Brasília e foi a São Paulo consultar-se com Lula sobre os acontecimentos que tomam as ruas do País de forma, talvez, muito mais ampla do que o movimento dos caras-pintadas que derrubou Fernando Collor do poder, hoje aliado de Dilma.
       
Aí está, presidente, a chave para entender as manifestações. A partir de Collor, seu aliado, é possível compreender perfeitamente o grito das ruas, da juventude em tempos de democracia. É mesmo de repúdio à corrupção que está - entenda assim - entranhada no seu governo. Mas, por justiça, não começou com a senhora. Vem de longe, se acentuou no período do seu conselheiro e mestre, e logo no inicio do primeiro mandato. Deu-se com a compra de parlamentares para ampliar a base de sustentação político-parlamentar no Congresso, lá em 2003, com os mensaleiros. O Executivo comprou deputados no Congresso. Seu mestre alegou que não viu nada, não soube de nada, não tinha, enfim, conhecimento do que se passava.
     
A partir desse período, a corrupção ganhou corpo e continuou atuante. Como bem sabe Rosemary Noronha, enquanto o Brasil era “aparelhado” pelos integrantes do partido no governo. O projeto era estender o poder por 20 anos, ou mais. Aliás, governar 20 anos ou mais sempre foi o sonho dos presidentes brasileiros. Desde Getúlio Vargas, para não mergulhar na República Velha. Os ditadores ficaram 21 anos no comando, numa época em que não havia liberdades individuais, nem habeas-corpus, muita tortura, como a presidente bem sabe. Brasileiros desapareceram ou foram assassinados  lutando pelo retorno à democracia.
         
A democracia está na sua plenitude.  É na democracia que o movimento dos jovens se apoia. Se estão indo além do que eles imaginavam, foi porque a Polícia Militar, no início dos acontecimentos, errou na sua ação agindo com violência desmedida em São Paulo e Rio de Janeiro. O movimento já não acontece em torno da mobilidade urbana, do transporte público. Voltou-se contra a corrupção praticada a larga; pelos políticos; pelos burocratas encastelados no Executivo em altos cargos; no Judiciário; entre os grandes empresários; nas instituições; nos contratos públicos; nos editais.
     
Chama também atenção que no antes orgulhoso País do futebol, por falta de outros orgulhos, os manifestantes se voltaram contra a bola. A Copa das Confederações perdeu o brilho, a Copa do Mundo vem aí, pálida, desconfiada. Os turistas tão esperados descobriram a tempo que nas capitais mais importantes a escorcha tomou conta dos preços que dispararam cavalgando na inflação, mas foi além dela. Invadiu os hotéis que dobraram os preços das suas diárias; os restaurantes. Enfim, o Brasil, País do futebol se transformou no País da escorcha. Mas não foi por acaso.
         
Por atacado, imaginando que governava um País do Primeiro Mundo, que driblara a “marolinha” da crise de 2008, alardeando que seríamos potência projetada para 2020, Lula, o antecessor, arrematou, em leilão, a Copa do Mundo para 2014 e as Olimpíadas para 2016. Seriam os momentos em que o Brasil maravilha iria mostrar-se, imponente ao mundo, com estádios monumentais, colosso da engenharia verde-amarela. Os jovens, então, perceberam que, com tantas dificuldades, não seria justo gastar-se bilhões e bilhões com estádios, enquanto havia prioridades inadiáveis como a educação e a saúde, a desigualdade, além dos transportes urbanos de qualidade duvidosa. Mais. Nesses bilhões e bilhões estavam, certamente, embutidas as propinas, a corrupção grossa. Assim, mesmo jovens, os meninos e as meninas, descobriram que o que o governo achava certo estava errado. Há vândalos, sim, grupos deles que se misturam à multidão para praticar saques, destruir prédios públicos históricos. São os bandidos infiltrados.
       
Ora, as manifestações são também contra os vândalos, porque eles estão nas ruas das cidades, diariamente. Praticando violências, explodindo caixas eletrônicas, cometendo assaltos e homicídios que colocam o Brasil entre os países mais violentos do planeta. De resto, a presidente Dilma ao reconhecer que o movimento “é contra a corrupção”,  poderia, também compreender que os vândalos estão também no Congresso, nos altos escalões públicos, no Executivo, praticando saques contra o erário acobertados pela impunidade. Como sempre.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (20)

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