sábado, 26 de outubro de 2013

VIREI CHIQUE!

Quando cheguei na Bahia – 21 de Maio de 1975 – comecei por me hospedar durante umas semanas no Barra Turismo Hotel. Localização perfeita não fosse que choveu a cântaro o tempo todo. Noites incluidas.
Depois me mudei para um palazzo: quarto e sala na Avenida Princesa Isabel. O tédio. Seis meses.
Até que descobri uma cobertura na decadente rua do Passo. Dois magníficos terraços, um com vista para o mar, outro para o Pelourinho. Fazia o impossível para chegar antes do pôr-do-sol. Os últimos raios pintavam de dourado a fachada da igreja do Rosário. Orgia de beleza.
Em 1985, comprei o casarão onde moro até hoje. Estava a venda havia mais de dois anos. Abrigara a Hora da Criança e ainda voavam os amáveis fantasmas de tantos músicos que lá foram ouvidos e estudados.
Não vou agora contar o que foram estes 38 anos –e mais! – de vida íntima com este centro de todos os desprezos. Quando, ao princípio, achava essencial freqüentar a “sociate”, que aliás nunca me aceitou totalmente, pois eu escapava aos critérios requeridos. Senti a estranheza e até a rejeição de morar nesta parte da cidade.
Não demorou dois anos até eu entender que aquela não era minha praia. Sai das colunas sociais e me concentrei no meu micro-reinado onde pude receber aqueles que eram realmente importantes: os que fazem progredir uma civilização. 
Recebi de Zubin Mehta a Jacqueline Bisset, passando por um rosário de princesas, duques e marqueses. Em outras circunstâncias, vieram Gil e Caetano, Marieta Severo e Regina Casé. Adélia Prado e Fernando Morais, Lindenbergue Cardoso e Ernst Widmer, Carybé, Alícia Alonso e os solistas da Orquestra Filarmónica de Moscou. Sem falar de meus fiéis amigos, a prata da casa, Tota e Teca, Elena Rodrigues, Fred Dantas, Mário Ulloa e tantos outros que tornariam fastidiosa esta lista.
E o bairro de Santo Antônio continuava ignorado pelos elegantes tupiniquins.  Mas a esta altura, eu podia esnobar os bairros ditos nobres de Salvador.
Aos poucos foram chegando. Primeira safra, os estrangeiros que se encantaram com o ambiente de vila provinciana. Aqui investiram suas economias para abrir pequenas pousadas e oferecer empregos. Algumas bem sofisticadas, sempre preocupadas em manter o espírito cultural do lugar. Na segunda safra, como pisando em ovos, paulistas, cariocas, mineiros e, finalmente, os baianos!
Confesso que durante uns anos, temei a asfixia num gueto exclusivo para gringos. Não fora minha intenção deixar os encantos da Europa para vir morar num faz-de-conta.             
E não é que o milagre aconteceu? Os soteropolitanos descobriram o Santo Antônio! Verdade é que o bairro tinha sido poupado da intervenção “enérgica” do velho Cabeça Branca e seus capengas, Vivaldo e Adriana.
Hoje é uma data especial. No jornal A Tarde, um longo artigo na página “Imóveis”. Leio que virou chiquérrimo morar  neste velho bairro e que o m2 é dos mais caros da capital?!!!
Gente!... Virei chique!

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