terça-feira, 31 de março de 2015

DE PEDRAS E FLORES

PASSEANDO NOS MEUS ARQUIVOS, ENCONTREI ESTE VELHO TEXTO.
ACHO QUE NÃO PERDEU DE SUA ATUALIDADE..

Amigas, amigos e outros leitores.
Estive fora do país durante umas cinco semanas. Bom para a cuca, bom para a saúde – frio de rachar na França e calor brabo em Marrakesh – ótimo para a gula e ruim para o bolso.
Mas como acredito piamente que o paraíso é aqui e agora...
Confesso que nos últimos dias estava louco para voltar para casa. Afinal é na Bahia que passei quase metade de minha vida, por livre e espontânea escolha.
37 anos não são um fim de semana.

Não vou mentir: durante esta temporada, por várias vezes fiquei furioso com nossos governantes que viajam a qualquer pretexto e custo, mas não aproveitam soluções óbvias que poderiam melhorar nosso dia a dia.
E não me venham com eurocentrismo ou xenomania. O que se faz bem no Brasil não demora a ser copiado lá fora. Alguém reclama?

Não pretendo listar erros e acertos, mas três coisas me chamaram a atenção: Em Paris e Toulouse como em Lisboa e Évora muitos passeios são cobertos por elegantes mosaicos de pedras formando desenhos geométricos ou figurativos. Algo parecido pode ser observado nos antigos palácios, mesquitas e jardins de Marrocos.


Em maio é plena primavera no hemisfério norte. Nos campos e nas cidades, orgia de flores e folhas novas. No parisiense parque Monceau, nas avenidas de Marrakesh e no lisboeta Rossio, os jacarandás explodem em amplas manchas roxas. Alguém pode me explicar por que misteriosa razão é tão difícil ver um jacarandá nas ruas de Salvador? No entanto nós todos sabemos que é uma árvore típica da América do Sul. Conclusão: nossos edis e urbanistas odeiam a natureza.

Esta é a terceira coisa que me irritou: durante a viagem cansei de ver jardins em todas as cidades. Os municípios rivalizam de criatividade. Arranjos de tulipas, rosas, gerânios, buganvílias, lírios, buxos e gramados alegram a entrada das cidades e vilarejos, humanizam câmaras e prefeituras, acolhem os turistas a saída dos aeroportos e ferroviárias. O que é que “eles” fazem aqui senão leiloar qualquer parcela de terra para se construir mais um monstrengo ou um centro comercial (sem esquecer polpudas gorjetas). E a Bahia pretende virar pólo turístico incontornável? Dentro de quais parâmetros? Cancun? Miami? Já existem e são com certeza mais bem resolvidos – na sua abismal mediocridade - que os mirabolantes projetos futuristas de meia-dúzia de espertalhões tupiniquins.
Salvador é uma linda mulher, mas por causa “deles” suja, desdentada e maltrapilha. Entrar nesta cama é conviver com fedores, ratos e moscas. Qual paixão resistiria?
Chegou o momento de varrer esta gentalha longe das decisões predatórias.

Precisamos de rostos novos e de atitudes novas. Os velhacos que já passaram pelo trono não podem voltar.

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