sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A LINGUAGEM PODE

DERRUBAR DILMA: E ATÉ ALCKMIM...


Vamos lembrar do tempo em que a inflação corria solta sob a presidência de Sarney: o então ministro da Fazenda, Bresser Pereira, referia que não tínhamos inflação: mas apenas “depreciação relativa de preços relativos”. É a mesma empulhação vocabular  pela qual, aqui nos Jardins, chamam a velha Tilápia de “Saint Peter” –é a mesma empulhação, também, pela qual o velho vocábulo “honestidade” é ora vendido como “compliance”.
O que era “ornar” virou “harmoniza com”: o  velho “fodão” se converteu em “empoderado”. Bijouteria virou “semi-jóia”, dentadura virou “protocolo”. Dívida virou “em aberto” e “agora” virou “nesse exato momento”.
Já vi a velha média (café com leite) ser vendida aqui nos Jardins como “café harmonizado com sub-tons de leite”.
O “raio gourmetizador” deu uma pernada de anão na clareza da linguagem do dia-a-dia.
A primeira forma de corrupção se dá na linguagem, notava Octavio Paz. Obviamente isso corre pelo bem: ou pelo mal.
Algum energúmeno botou na cabeça de Alckmin que o “volume de reserva” de água deveria se chamar “volume morto”. Acredito que a semiótica seja a arte de perguntar a “universotários” se Pica-Pau é vilão ou herói. Mas, semioticamente, falando os Alckmistas não poderiam ter escolhido termo pior: a ideia de morte já é vendida no termo inventado para iludir o populacho de que ainda temos alguma reserva de água: é algo de dar repuxão, é algo de se parir o cólon, não?
Brincar com a linguagem pode matar um governo.
Brincar com a linguagem gerou a queda de Jango.
Há um episódio particular da história do Brasil em que isso foi evidenciado como nunca.
Se você olhar o Estado brasileiro, este foi criado praticamente pelo Getúlio Vargas… só que os anos haviam passado, o mundo havia mudado muito e se precisava fazer diversas reformas. Jânio havia adotado um nome “desgracento”, um problema de nomenclatura,  a que ele deu o nome de Reformas de Base.  Delas, ressaltem-se algumas alterações armagedônicas para o Brasil daqueles dias:
A lei 4.131, de 3 de setembro de 1963 dizia:
¥ “(sic)… fica restringida a remessa de lucros do capital estrangeiro à (sic) uma taxa máxima de dez por cento ao ano sobre o capital investido, excluindo-se os lucros dos re-investimentos (sic) e capitalizados dentro do pais pelo Congresso Nacional”.
Esta lei alterou profundamente toda a estrutura de contabilidade das grandes empresas estrangeiras, tornando-lhes impossível maquiar os lucros, que chegavam até a casa de 5.000% sobre o capital investido ; Em março de 1963, foi aprovado pelo Congresso Nacional o Estatuto do Trabalhador Rural, de autoria do deputado Fernando Ferrari. O estatuto alterava profundamente os dispositivos do processo de reforma agrária;1 além disso, estendia aos assalariados do campo os mesmos direitos dos trabalhadores urbanos; fortalecia a sindicalização e a organização dos trabalhadores rurais, até então desunidos e sem uma legislação que os protegesse da semi-escravidão a que ainda eram submetidos ; Em 13 de março de 1964, aconteceu na Central do Brasil um comício no qual Jango divulgou o decreto da Supra, que submetia à desapropriação:1
¥ “(sic)… propriedades rurais superiores a quinhentos hectares, marginais às estradas federais numa faixa de dez quilômetros.”
¥ “(sic)… seriam desapropriadas para fins de reforma agrária as áreas superiores a trinta hectares, marginais dos açudes e obras de irrigação financiadas pelo Governo.”
“(sic)… eram sujeitas a desapropriação e encampação das refinarias privadas em favor da Petrobras”.
Isso foi uma catástrofe: porque já haviam movimentos conspiratórios contra o Jango, toda aquela gente que organizou a Revolução de 64 já estava se concentrando em conspirações para cá e para lá.
As tais das Reformas de Base foram um pilar da Revolução de 64, todo mundo dizia, quase falavam do Jango como se fosse o Mao Tse Tung ou coisa parecida. Isso acabou levando à Revolução de 64, mas não podemos deixar de fazer um comentário muito interessante sobre as reformas de base: de fato elas eram necessárias, só que sem essa maldita nomenclatura.
Na verdade tais reformas acabaram sendo feitas pelo presidente Castello Branco,  e as pessoas não dizem isso. Castello sonhava em fazer uma reforma financeira, criar um banco central independente, emissor de moeda,  e uma reforma agrária. 
Todas as reformas de base foram feitas pelo governo do presidente Castello Branco, só que sem esse nome. Por uma piada, o único tópico que o governo Castello Branco não conseguiu cumprir foi a reforma agrária, que não foi aprovada pelo Congresso. Afinal seu projeto de reforma agrária era muito mais radical do que o do Jango:  aí o Congresso não aprovou.  
Jango foi deposto por uma questão de linguagem.
E a linguagem pode matar Dilma: ou o Alckmin sob a seca.
Atentai, pois, senhores assessores de comunicação de “empoderados”. O mau uso da linguagem fará vossos destinos mais negros que a asa da Graúna…
 
LAVA JATO:  STF DO PT ENTRA PARA A  HISTÓRIA DAS ENCICLOPÉDIAS NO VERBETE “DIVIDIR PARA CONQUISTAR"
Por Claudio Tognolli | Claudio Tognolli –  12 horas atrás
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira desmembrar a investigação contra a senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, hoje concentrada nas mãos do ministro Teori Zavascki. Com o entendimento de que o caso da petista não está diretamente conectado ao petrolão, outro ministro deverá analisar as denúncias - José Dias Toffoli foi o escolhido. Outra parte da apuração, que não envolve políticos com mandato, será remetida para a Justiça de primeira instância, em São Paulo.
O inquérito 4130, integra a operação “lava jato” e no qual são investigados a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo e outros acusados sem foro por prerrogativa de função.
Por 8 votos a 2, o Supremo decidiu tirar o processo que investiga a ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma, Gleisi Hoffmann, da relatoria de Teori. Por 7 a 3, o caso foi tirado das mãos de Sergio Moro.
A maioria do Supremo entendeu que, apesar de os fatos envolvendo a senadora terem surgido no âmbito da operação Lava Jato e tenham sido delatados por um mesmo colaborador ou tenham conexão, não significa que precisam estar atrelados ao mesmo juiz.
Vencido, o ministro Gilmar Mendes, votou dizendo que não se tratava de questão técnica processual, “mas algo que pode beneficiar quem tiver esse beneplácito” do desmembramento. Ele afirmou que a “pura e simples” divisão pode estar comprometendo o processo penal.
Ou seja: a Lava Jato sofreu uma pernada de anão para ser encaminhada para a pizzaria do PT.
Demorou mas fizeram no STF o que o PT sabe fazer de melhor: dividir para conquistar.
Dividir para conquistar (ou dividir para reinar) (derivado grego: διαίρει καὶ βασίλευε), é ganhar o controle via fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente.
O conceito refere-se a uma estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.
Dividir para conquistar foi utilizado pelo governante romano César (divide et impera), Filpe 2 da Macedônia e por ninguém menos que Napoleão(divide ut regnes). Aulo Gabíneo também repartiu a nação judaica em  cinco para poder dominar, relata Flavio Josefo em A Guerra dos Judeus.
Maquiavel cita uma estratégia militar parecida no livro IV de Dell'arte della guerra: para Maquiavel, “ um capitão deve se esforçar ao máximo para dividir as forças do inimigo, seja fazendo-o desconfiar dos homens que confiava antes ou dando-lhe motivos para separar suas forças, enfraquecendo-as”.
O STF do PT entra para a  história das enciclopédias, contribuindo armagedonicamente para o verbete “Dividir para conquistar"

Claudio Julio Tognolli  -  é jornalista há 35 anos e já passou por “Veja”, “Jornal da Tarde”, “Caros Amigos”, “Joyce Pascowitch”, “Rolling Stone”, “Galileu”, “Consultor Jurídico”, rádios CBN, Eldorado e Jovem Pan e “Folha de S. Paulo”. Ganhou prêmios de jornalismo e literatura como Esso e Jabuti. É diretor-fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e membro do ICIJ (International Consortium of Investigative Journalism). Professor da ECA-USP, escreveu 12 livros.

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