BRUNO FORA DAS NORMAS

Debret, Villegaignon, Labattut, Grandjean de Montigny, Taunay, Verger, Lévi-Strauss ... Franceses que aportaram no Brasil por uns anos ou pelo resto da vida. Mas, além dos que construíram uma obra memorável, há também, e são bem mais numerosos, aqueles que trabalham na sombra por um país melhor.

Frequento o Hotel Villa-Bahia há mais de cinco anos. Sento numa poltrona confortável pelo menos duas vezes por semana para um cafezinho com o Bruno Guignard, diretor do estabelecimento que ganhou o título de melhor hotel do Brasil por dois anos seguidos no prestigiado TripAdvisor. Dezessete apartamentos decorados com sóbria elegância, refúgio de celebridades, embaixadores e altezas fugindo dos holofotes, um restaurante cujo chefe foi considerado pela Veja como o melhor de Salvador... Contribuição altamente positiva para nossa capital. Contribuição que representa muito trabalho, muita dor de cabeça. Poucos sabem que também é o único hotel que emprega preferencialmente negros, seja como recepcionistas ou outras funções.

 Me aproximei do Bruno com alguma reserva, já que, após mais da metade de minha vida na Bahia, meus amigos são, na maioria, brasileiros. A cada encontro, descubro uma nova faceta deste gaulês generoso no seu olhar, exímio contador de histórias. Criado entre italianos emigrados, árabes e ciganos, ele tem do mundo uma visão que ignora fronteiras e tabus. Estudou zoologia, trabalhou no parisiense zoológico de Vincennes, entregou calçados no Chile, levou turistas ao Machu-Pichu, a Torre Eiffel, ao Pão de Açúcar e escreveu um guia sobre o Equador antes de desembarcar na Bahia e ter duas filhas soteropolitanas. Amigo de muçulmanos e judeus, não gosta - caso de estudo sociológico -  nem de queijo, nem de vinho, nem mesmo de pão! 

Mas o cúmulo deste francês pouco convencional é que consegue enfrentar com filosofia budista as kafkianas burocracias municipal e estadual sem jamais perder o sorriso e o bom humor.